O direito de ter e possuir um corpo feminino - Abaixo a Cultura do Estupro! (pt-es)
Gostaríamos de expor uma compreensão baseada nas concepções psicanalíticas para uma sucessão de acontecimentos sociais e virtuais que tiveram como estopim um reality show infantil no Brasil. Texto puesto en consideración en las Jornadas Virtuales El Triángulo del Psicoanálisis de OCAL, el 9 de abril de 2016, entre Guadalajara, Lima, brasilia y Buenos Aires y Bogotá, entre otras ciudades
![]() ![]() Em 20 de outubro de 2015, estreou no Brasil um reality show onde 20 crianças entre 9 e 13 anos assumiam uma cozinha, em rede nacional, que competiam estre si como é típico destes programas. Eis que algo inusitado aconteceu! Ao invés de comentários sobre as crianças cozinhando ou mesmo sobre os pratos, talvez sobre os jurados, o que alcançou meteoricamente o “trending topics” do Twitter foram comentários pedófilos a respeito de uma das participantes, uma menina de 12 anos. A partir desses terríveis comentários com cunho sexual feitos por homens em relação à uma menina de doze anos várias mulheres se identificaram com ela e deram início a uma enorme enxurrada de denúncias de seus primeiros assédios. No dia posterior, 21 de outubro de 2015, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou uma proposta que torna crime induzir ou auxiliar uma gestante a abortar. Atualmente o aborto é proibido no Brasil salvo quando houver risco à vida de gestante, se o feto for acéfalo ou se a gravidez for fruto de um estupro. Até então não havia a necessidade de comprovação ou comunicação à autoridade policial. O agente de saúde pública só depende da palavra da gestante e de sua avaliação. No entanto, com a nova proposta, no caso de estupro, para que um médico possa fazer o aborto será exigido exame de corpo e delito e comunicação à autoridade policial. Quem induzir, instigar ou ajudar a gestante ao aborto receberá pena de prisão de seis meses a dois anos. Seguem aqui alguns comentários: - Gente, qual é o nome daquela bonitinha que apareceu aí agora??? Acho que já tenho uma crush. - E a Valentina fazendo aqueles pratos no masterchef... Vagabunda demais... - Essa Valentina com 14 anos vai virar aquelas secretárias de filme pornô! - Deus me perdoe, mas essa Valentina, deixa eu ficar quieto pra não ir preso -Sobre essa Valentina: se tiver consenso é pedofilia? - Valentina tem 12 anos acho que já aguenta fazer um filme pornô - Quem nunca queria estuprar uma criança? - Alguém sabe o twitter da Valentina? Ela vai morar comigo querendo ou não! - Valentina, você pode perder o masterchef mas acabou de ganhar um namorado. - Se ela quiser não é pedofilia, é amor. - Não fica assim, amigo...a culpa da pedofilia é dessa molecada gostosa. Após esses dois fatídicos dias ocorreram enormes manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo, pelo direito a vida das mulheres, a favor do aborto e contra a cultura do estupro. Manifestações essas que foram efeito da “viralização” da #meuprimeiroassedio, os quais eram relatos, em sua maioria, femininos, de primeiras experiências de assédio sexual sofridas. Um mês após essas manifestações outro movimento no mundo virtual se “viraliza”, o #meuamigosecreto, onde as pessoas descrevem as situações cotidianas que denunciam a cultura machista no dia a dia na qual estão envolvidas. Outro elemento que nós consideramos de extrema importância para a compreensão do nosso trabalho é o enorme número de estupros no Brasil. Em maio de 2015, o jornal “O Globo” noticiou uma queda no número de estupros no Brasil. Apesar de constantes, as denúncias ainda são poucas. Estamos falando de uma redução em 7% nas notificações de estupro registradas, quando comparadas a 2013. Pensando em termos absolutos e levando em consideração o tempo, a história e a evolução desse processo, os 7% de diminuição, são representativos. Por outro lado, estamos com 11 estupros por minuto ocorrendo, em média, no Brasil. E isso porquê estamos falando de números que foram notificados em relação a um crime que é o que obtém o título de maior taxa de subnotificação do mundo. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública é provável que tenham havido algo entre 136 mil e 476 mil casos de estupro no Brasil em 2014. Por que não notificam? Chama a atenção o quanto é complicado e duvidoso estimar um número e conseguir fazer alguma relação que se aproxime da realidade. A subnotificação poderá nos ajudar na compreensão deste problema, o qual nos parece enraizado em nossa cultura brasileira. O caso que não é notificado é muito preocupante devido ao número ser muito maior do que os que são denunciados, revelando assim o alto nível de preconceito ainda existente na sociedade. Vítimas de estupro se veem ainda mais violentadas quando buscam seus direitos, pois são desrespeitadas com perguntas do tipo: Mas o que você estava vestindo? Onde estava andando? Estava sozinha? Essas são perguntas que fazem parte do “protocolo” nas delegacias da Mulher. O estupro aqui é entendido como uma violação do corpo e da sexualidade de outrem, sem o seu consentimento. Uma violação primeira que logo será sucedida por tantas outras. É comum o relato de ao buscar ajuda e denunciar o ocorrido o responsável pelo registro desconfie da veracidade do relato, exija um exame de corpo delito, criando assim uma segunda situação de violência física, através do exame invasivo, e psíquica na medida em que não tem reconhecido como violência o primeiro ato vivido. Ao avaliarmos esses questionamentos podemos perceber que nada mais são do que outras facetas da violência traumática experimentadas pelas vítimas da violência sexual. Não nos esqueçamos do que Ferenczi escreveu dizendo que uma das formas mais significativas do trauma é a não credibilidade dada à vítima da experiência traumática. Pois, leva a vítima a acreditar que foi responsável pelo que lhe ocorreu. Foi através da escuta atenta às queixas das mulheres de sua época que Freud teve seus primeiros insights sobre o inconsciente. Apesar de não ter assumidamente conseguido avançar muito na compreensão psicanalítica do universo interno feminino é digno de nota que, na época em que vivia, tenha dedicado tanto interesse ao mundo interno feminino, considerando significativo e importante tudo o que as mulheres tinham a lhe dizer. “Na época predominantemente falocrática de Freud, essa receptividade era revolucionária em si mesma” (Dougall, 2001)p.3) Atualmente, no ambiente virtual, as hashtags são uma espécie de marcadores que através das palavras-chave do assunto viram hiperlinks dentro da rede e são, assim, indexáveis pelos mecanismos de busca. Deste modo, outros usuários podem clicar nas hashtags ou buscá-las em mecanismos como o Google, para ter acesso a todos que participam da discussão. As hashtags mais usadas no Twitter ficam agrupadas no menu Trending Topics, encontrado na barra lateral do microblog. As hashtags devem ser curtas, isoladas e descrever a publicação da melhor forma possível. Foi criado, no mundo virtual, o encontro e a utilização dos recursos necessários para um grande ‘não’ à violência contra as mulheres. A comunidade, o grupo, se reúne virtualmente e reage deixando nítida a certeza de que o assédio não escolhe cor, idade ou classe social, é um comportamento amplamente difundido e tolerado pela cultura. Desabafos, pedidos de ajuda, busca de auto-aceitação, auto-compreensão. Através das publicações na rede via FB, twitter, etc..., as mulheres encontram um espaço potencial de ressignificação das tão antigas experiências traumáticas vividas. A internet se apresenta como uma plataforma que permite ao sujeito a exposição/publicação dessa violência vivida sem que seja ‘obrigado’ a ver espelhados nos olhares dos interlocutores a tão temida reprovação e falta de compreensão. Assim, não se sentem condenadas. Podem se expor sem medo do julgamento, que muitas vezes, projetam no outro. Tantas publicações parecem ter tido um efeito consolador na troca de experiências entre os pares muito mais numerosos do que se imaginava na fantasia de cada uma. Nessa rede virtual formada parece haver um apoio e um espaço que começa a poder sustentar e suportar tanta dor há tanto tempo engasgada. É como se a barreira de proteção oferecida pela virtualidade permitisse que os conteúdos que estavam ‘reprimidos’ pudessem começar a ser ditos. Uma forma de transpor o sentimento de culpa e o medo imposto pelo Super Ego rígido e alcançar a consciência exigindo trabalho e elaboração. A internet se oferece como veículo que possibilita o transito daquilo que antes estava reprimido. O Individuo se dilui no grupo e o grupo protege sua identidade, mas permite aparecer o testemunho. A partir de uma interlocução que permite que compartilhem uma experiência e se deem conta que não estão sozinhas. Que se trata de uma experiência amplamente compartilhada entre seus pares. Nessa união ganham força e confiança para expor o vivido, dar nome e criar uma narrativa, que explicite a violência e o abuso contra sua autonomia e o seu corpo. Através desse movimento das #hashtags as mulheres vêm a público dar seus testemunhos, expondo suas entranhas que tanto exigiam para serem mantidas quietas e em silencio. Assim, encontram uma nova e atual forma de buscar, em alguns momentos e de forçar em outros, uma interlocução. Alguém que as escute e que possa, mais uma vez, ouvi-las e entender o que ainda continua a oprimi-las apesar de tantos anos de embate e das algumas conquistas alcançadas a duras penas. Nessa “cultura do estupro” percebemos a busca pela invasão do corpo feminino, a tentativa violenta de possuir a qualquer custo o corpo feminino (mãe). Não há como não lembrar da fase sádico- oral canibalesca do bebê, onde ele precisa incorporar o seio materno, internalizar o objeto primário. Inicialmente o bebe não se percebe como separado do corpo de sua mãe e com a percepção dessa separação, a qual vai ocorrendo diante a tantas experiências de frustração e gratificação, nasce um novo sentimento, a inveja. Klein descreve como o bebe se sente frustrado em perceber que precisa de um outro para lhe dar o alimento, a vida. Iniciam-se assim inúmeras fantasias de ataque ao corpo da mãe, ataques ao corpo feminino, criativo, vivo com o intuito de tirar de sua mãe os bebês que estariam ali dentro, assim como também o pênis do pai. Portanto, será que podemos indagar que esse crime tão primitivo estaria também ligado às fantasias mais primitivas da mente humana? Por que tanta violência ao corpo feminino? O corpo feminino traumatiza com sua diferença e fertilidade? O inconsciente é atemporal e suas fantasias também. Acreditamos que é devido a essa atemporalidade que até hoje, século XXI, o crime mais bárbaro e violento seja tão recorrente e “aceito” na nossa sociedade. Não nos esqueçamos que esse crime não é feito somente por homens estranhos às vítimas, mas também pelos parceiros das mulheres violentadas. Vivemos em uma sociedade extremamente moderna, mas com mentes ainda muito primitivas. Klein enriqueceu muito o entendimento psicanalítico da constituição do feminino e acreditamos que isso também se deva ao fato de que Melanie Klein era mulher. Uma mulher diante a tantos homens defendendo uma teoria onde o primeiro objeto de inveja era o seio materno e não o pênis, como Freud havia proposto em sua teoria. Bibliografia: - Fereczi, S – Confusão de Língua entre os adultos e a criança: a linguagem da ternura e da paixão. In: Obras Completas Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes, 1992. v.IV - FREUD, S – O Inconsciente (1915). In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol XIV. Rio de Janeiro: Imago. - KLEIN, M. – Inveja e Gratidão In: Inveja e Gratidão e Outros Trabalhos 1946-1963. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1991. - KLEIN, M. – Estágios iniciais do conflito edipiano e da formação do super- ego. In: A Psicanálise de Crianças. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1997. - Mc Dougall, J – As Múltiplas Faces de Eros: uma exploração psicoanalítica da sexualidade humana. São Paulo: Martins Fontes, 1997
TEXTO EN ESPAÑOL
El derecho de tener y poseer un cuerpo femenino. ¡Abajo la cultura de la violación! Érika Reimann e Paola Amendoeira
Nos gustaría poner a comprensión de las concepciones psicoanalíticas, una serie de acontecimientos sociales y virtuales que ocurrieron a partir de la activación de un “reality show” infantil en Brasil. El 20 de octubre de 2015, se estrenó en Brasil un reality show donde 20 niños entre 9 y 13 años estaban en una cocina en red nacional compitiendo entre sí como es típico de estos programas. Más algo inusitado aconteció: el lugar de hacer comentarios acerca de los niños cocinando, sobre los platillos o tal vez sobre los jurados, lo que alcanzó el “tranding topic” en twitter fueron comentarios pedófilos respecto de una de las participantes, una niña de 12 años. A partir de los terribles comentarios de naturaliza sexual hechos por hombres respecto a la niña de 12 años, varias mujeres se sintieron identificadas con ella y comenzó un bombardeo masivo de denuncias acerca de lo que habían sido sus primeros asedios.
Al día siguiente, el 21 de octubre de 2015, la Comisión de Constitución y Justicia de la Cámara de Representantes aprobó una propuesta que penaliza inducir o ayudar a una mujer embarazada a abortar. Actualmente el aborto es prohibido en Brasil, excepto cuando se encuentra en riesgo la vida de la madre, si el feto es acéfalo o si el embarazo es fruto de una violación. Hasta entonces no había necesidad de comprobación o comunicación con las autoridades policiales. La gente de salud pública solo depende de la palabra de la madre o su aceptación. Sin embargo, con la nueva propuesta, en el caso de violación se requerirá que un médico haga un examen e informe a las autoridades policiales. Quien llegara a inducir, instigar o ayudar a la mujer embarazada para hacerse un aborto, recibirá una pena de prisión de seis meses a dos años. Después de esos dos días fatales hubo grandes manifestaciones en Río de Janeiro y Sao Paulo, a favor del derecho a la vida de las mujeres, a favor del aborto y contra la cultura de la violación. Dichas manifestaciones eran efecto de la “viralización” en redes del “hash tag”:”#meuprimeiroassedio” (mi primer acoso), que eran relatos en su mayoría femieninos de las primeras experiencias de acoso sexual. Un mes después de esas manifestaciones, otro movimiento en el mundo virtual se hace viral: #miamigosecreto, donde las personas describen las situaciones cotidianas que denuncian la cultura machista en la que están envueltas día a día. Otro elemento que nosotras consideramos de extrema importancia para la comprensión de nuestro trabajo es el enorme número de violaciones en Brasil. En mayo del 2015, el periódico “El Globo” informó una disminución en el número de violaciones. A pesar de que son constantes, las denuncias aún son pocas. Estamos hablando de una reducción del 7% en las notificaciones de denuncias de violación registradas, comparadas con el 2013. Pensando en términos de absolutos y tomando en consideración el tiempo, la historia y la evolución de este proceso, el 7% de disminución es representativo. Por otro lado tenemos 11 violaciones por minuto ocurriendo en promedio en Brasil. Y eso porque estamos hablando de números que fueron reportados en relación a un delito que a nivel mundial tiene la menor taza de denuncia o notificación a la autoridad. De acuerdo con el Foro Brasileño de Seguridad Pública es probable que haya habido entre 136,000 y 476,000 casos de violación en Brasil en 2014. ¿Por qué no notifican? Llama la atención lo complicado y dudoso que es estimar un número y hacer una relación que se aproxime a la realidad. La baja tasa de denuncia nos podrá ayudar en la comprensión de este problema, el cual nos parece arraigado en nuestra cultura brasileña. El hecho que no sea notificado es muy preocupante debido a que el número de violaciones reales es mucho mayor al número de violaciones denunciadas, esto revela el alto nivel de prejuicio aún existe en nuestra sociedad. Las víctimas de violación se ven aún más violentadas cuando ejercen sus derechos, pues son denigradas con preguntas del tipo: ¿Pero usted que estaba vistiendo?, ¿Por dónde estaba caminando? ¿Estaba sola?, estas son preguntas que forman parte del protocolo en las delegaciones de la mujer. La violación aquí es entendida como una violación del cuerpo y de la sexualidad del otro sin su consentimiento; una violación primera que luego será seguida por tantas otras. Es común el caso en que al buscar ayuda y denunciar lo ocurrido, el responsable del registro desconfíe de la veracidad del relato, exija un examen del cuerpo del delito, creando así una segunda situación de violencia física, a través de un examen invasivo y psicológica en la medida en que no se está reconociendo como violencia al primer hecho vivido. Si evaluamos esos cuestionamientos, podemos percibir que solo son otras facetas de la violencia traumática experimentada por las víctimas de la violencia sexual. No olvidemos lo que Ferenczi escribió acerca que una de las formas más importantes del trauma es la falta de credibilidad dada a la víctima de la experiencia traumática. Pues lleva a la víctima a creer que ella fue responsable por lo ocurrido. Fue a través de la escucha atenta de las quejas de mujeres de su época que Freud tuvo sus primeros “insights” sobre el inconsciente. A pesar de no tener un gran progreso en la comprensión psicoanalítica del universo interno de la mujer, es de destacar que en el momento en el que vivía, dedicó un gran interés por el mundo interno de las mujeres, teniendo en cuenta todo aquello significativo e importante que las mujeres tenían para decir. “En la época predominantemente falo céntrica de Freud, esa receptividad era revolucionaria en sí misma” (Dougall, 2001,p.3). Actualmente en el ambiente virtual los “hastags” son una especie de marcadores que a través de palabras clave sobre un tema muestran hiper vínculos dentro de la red y por lo tanto son indexables por los buscadores buscadores. De este modo otros usuarios pueden hacer click en los hashtags y buscar en navegadores como Google, para tener acceso a todos los que participan de la discusión. Los hashtags más usados en Twitter están agrupados en un menú de “Trending Topics” que se encuentra en la barra lateral del microblog. Los hastags deben ser cortos, aislados y describir la publicación de la mejor forma posible. Fue creado en el mundo virtual, la reunión y utilización de recursos necesarios para un gran “¡no a la violencia contra las mujeres! Una comunidad, el grupo, se reúne de manera virtual y reacciona dejando clara la certeza de que el acoso no escoge color, edad o clases social y es un comportamiento ampliamente difundido y tolerado por la cultura. Confidencias, pedidos de ayuda, busca de auto- aceptación, auto-comprensión. A través de las publicaciones en la red, vía FB, Twitter, etc, las mujeres encuentran un espacio potencial de resignificación de antiguas experiencias traumáticas. La internet se presenta como una plataforma que permite al sujeto la exposición/publicación de la violencia vivida sin ser obligado a ver en los ojos de sus interlocutores la tan temida reprobación y falta de comprensión. Así no se sienten condenadas, pueden exponerse sin miedo a ser juzgadas, que muchas veces se proyecta en el otro. Así que tantas publicaciones parecen haber tenido un efecto consolador en el intercambio de experiencias entre tantos pares, mucho más que lo que habría imaginado cada uno. En esa red virtual formada parece haber un apoyo y un espacio que comienza a soportar y sostener tanto dolor que durante tanto tiempo había sido un nudo en la garganta. Es como si la barrera de protección ofrecida por la virtualidad permitiese que los contenidos que estaban “reprimidos” pudiesen comenzar a ser dichos. A partir de una interlocución que permite que compartan una experiencia y se den cuenta que no están solas. Que se trata de una experiencia ampliamente compartida entre sus pares. En esa unión ganan fuerza y confianza para poder exponer lo vivido, dar nombre y crear una narrativa que explicita que la violencia es un abuso contra su autonomía y contra su cuerpo. A través de este movimiento de #hastags las mujeres publican sus testimonios exponiendo sus entrañas que tanto exigían para ser mantenidas quietas y en silencio. Así, encuentran una nueva y actual forma de mirar los tiempos y la fuerza en otros, una interlocución. Alguien que las escuche y que pueda entender lo que continúa oprimiéndolas a pesar de tantos años de lucha y de algunas conquistas alcanzadas a duras penas. En esa “cultura de la violación” encontramos la búsqueda de la invasión del cuerpo femenino, una tentativa violenta de poseer a cualquier costa el cuerpo femenino (madre). Uno no puede dejar de recordar la fase sádico-oral canibalesca en que el bebé desea re incorporarse al seno maternos, incorporar el objeto primario. Al principio, el bebé no se percibe como algo separado del cuerpo de su madre, es con la percepción de la separación -la cual irá ocurriendo durante una sucesión de experiencias frustración y gratificación- que nace el sentimiento de envidia. Klein describe como el bebé se siente frustrado al percibir que necesita de otro para que le dé el alimento, la vida. Así se inician numerosas fantasías de ataque al cuerpo de la madre, ataques al cuerpo femenino, creativo y vivo, como un intento de robar a los bebés que estarían dentro del cuerpo de la madre, así como los penes del padre. Por tanto ¿será que podemos postular que ese crimen tan primitivo estaría también ligado a las fantasías más primitivas de la mente humana? ¿Por qué tanta violencia al cuerpo femenino? ¿El cuerpo femenino traumatiza con su diferencia y fertilidad? El inconsciente es atemporal y sus fantasías también. Creemos que es debido a esa atemporalidad que hasta ahora, en el siglo XXI, el crimen más bárbaro y violento sigue siendo tan común y aceptado en nuestra sociedad. No olvidemos que este crimen no sólo es realizado por hombres ajenos a las víctimas, sino también por sus parejas. Vivimos en una sociedad extremadamente moderna, pero con una mente aún muy primitiva. Klein enriqueció mucho el entendimiento psicoanalítico de la constitución de lo femenino y creemos que eso también se debe al hecho de que Melani Klein era mujer. Una mujer delante de tantos hombres, defendiendo una teoría donde el primer objeto de envidia era el seno materno y no el pene como Freud había propuesto en su teoría.
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